14/02/2012

Resenha: Você Tem Meia Hora

Livro de Camila Nascimento Silva


Borda Arredondada sem utilizar imagens

Na noite de réveillon, Bia é abandonada por Arthur, com quem namorava há três anos, morava há dois e pretendia se casar daqui a um. À beira dos trinta - o que é uma tragédia, pois o que era para dar certo já deveria ter dado e o que deu errado não daria mais tempo de consertar – sente que deve se casar logo. Caso contrário, estará condenada ao calabouço da solteirice, brigando pelo buquê nas festas de casamento e conhecendo homens que mentem a idade, o estado civil e a foto na internet. Mariana acha que a melhor amiga está exagerando, pois até um pé na bunda te empurra para a frente. "Reinventar-se" é A palavra! Porém, para isso, Bia precisa ir para o lugar onde todo mundo vai quando dá essas loucas: Londres. E concorrer à vaga de emprego mais disputada do século XXI. Mas será que uma mudança pode mesmo dar certo quando se leva na bagagem uma história tão mal resolvida?

“Infelizmente – ou felizmente – na vida real é proibido ter certeza e os caminhos nunca se apresentam de forma bem definida tipo preto ou branco. As escolhas variam numa ilimitada gama de cinzas claros e escuros e é sempre arriscando que fazemos decisões, porque sofrer também faz parte do processo ou, como diria Eça de Queiros, a cada viver corresponde um sofrer.” (p.95)

Camila Nascimento Silva
A sinopse do livro deixa a impressão de que Você Tem Meia Hora faz o estilo chick-lit, uma literatura tipicamente feminina (tipo “mulherzinha”, conforme diriam alguns rs). É... Não tem como negar... O livro realmente transita pelo universo feminino. Algumas situações vão proporcionar tanto conforto aos homens quanto um passeio no shopping, uma ida à praia lotada num domingo de sol escaldante ou uma proposta repentina de viagem para um “lugar diferente”. Resumindo, o livro, a princípio, não pode ser classificado como unissex (o personagem Olli adoraria esse termo rs). Basta ver que, no Skoob, 96% das pessoas que leram Você Tem Meia Hora são mulheres. Mas será mesmo que o livro só tem atrativos para o público feminino? Humm... Vejamos...

Arthur, um canalha? Ilustração: Osvaldo Pavanelli
Você Tem Meia Hora é narrado em primeira pessoa pela protagonista, Bia, que vai expondo aos poucos suas alegrias e, principalmente, suas angústias (no início, essa característica me remetia constantemente a Sex And The City e à narradora dos episódios, Carrie). Vemos a dor da personagem por não se relacionar bem com o pai, por ter sofrido perdas de pessoas queridas desde a infância... Mas o foco principal do livro está no baque emocional provocado em Bia por Arthur, que abandonou a companheira sem motivo aparente. Talvez a maioria das mulheres comece a leitura enxergando-o como um canalha safado, mas eu, sinceramente, fiquei em dúvida se ele teve ou não razões para fazer o que fez, já que a vida conjugal do casal não foi bem esmiuçada. Na verdade, o leitor tem apenas a ótica da Bia para tirar suas conclusões. E essa característica do texto pode acabar tornando a leitura bastante interessante para os homens, pois eles têm a oportunidade de imaginar os motivos de Arthur e confrontar a visão da protagonista. Eu particularmente fui criando algumas teses. E fiquei bastante curioso em saber como o caráter de Arthur seria retratado no final da história.

Esse lugar não me é estranho... Você o reconhece? É a rua da Bia!
O livro não traz uma divisão expressa, mas eu diria que a história se divide em 3 partes. A primeira se passa no Rio (aliás, a Bia foi minha vizinha rs, já que fui criado e morei a maior parte de minha vida em Botafogo), onde a protagonista “curte” sua depressão pós-separação. A segunda parte se passa em Londres, cidade em que Bia, comissária de bordo, conseguiu uma vaga de emprego após Mariana, grande amiga de infância, ter insistido para que ela se candidatasse. É nessa fase que Bia procura “reinventar-se” e descobre que Arthur não é o único homem do mundo. A terceira parte envolve uma tragédia inesperada, que deixa Bia completamente abalada. Para mim, o melhor do livro está justamente aí. Além de dinâmico e cheio de ação, esse trecho passa uma mensagem muito bonita, que, aliás, poderia resumir a mensagem do livro: o amadurecimento – que às vezes só vem depois de se enfrentar perdas afetivas, decepções amorosas e outras situações de dor – faz com que as coisas sejam enxergadas mais próximas da realidade, o que é o primeiro passo para se alcançar a felicidade.

Ao terminar a leitura, percebi que ela me encantou de maneira inesperada. Os personagens principais (Bia, a protagonista; Mariana, a amiga; Olli, o amigo gay que mora em Londres; Jonas, o pai) carregam dramas pessoais que dão peso e consistência à história. Pois é! Você Tem Meia Hora, apesar de ser um chick-lit, nem de longe traz uma trama vazia. E dá para notar que a autora precisou pesquisar para escrever o livro, que, além de bem narrado, traz um texto cheio de sentimento, humor e antenado com o mundo contemporâneo. É... Por tudo o que eu disse, vê-se que Você Tem Meia Hora até pode ser lido por homens (desde que não sejam preconceituosos). Já entre as mulheres, o sucesso está mesmo garantido!

Conversa só para homens!

Borda Arredondada sem utilizar imagens
Costuma-se dizer que o sexo feminino é mais sensível na hora de escolher um par e também durante o relacionamento. Os homens, por sua vez, seriam mais focados nos atributos físicos das parceiras em potencial e menos emotivos e profundos em uma relação amorosa. Eu sempre achei isso um equívoco! No livro, o personagem Dyllan surge na história como a encarnação de um deus grego, um misto de Reynaldo Gianecchini e Paulo Zulu. Analisem o relacionamento que surge dessa aparição e digam se ele, da parte feminina, não seria muito mais pautado no físico que no sentimental. O sentimento até pode ter surgido com a convivência, mas a motivação inicial é física, com certeza. E a personagem em questão, depois de envolvida emocionalmente, dá ao termo “sensibilidade” o sentido de medição, controle. Na verdade, eu acho que isso é bem comum nas mulheres (me perdoem, meninas [que estejam se intrometendo aqui na conversa! rs]). Na minha opinião, elas veem os gestos de carinho dos homens (dar flores, lembrar datas especiais etc.) como uma espécie de termômetro (que eu chamo de “sentimentômetro”), um instrumento que indicaria a quantos graus está o sentimento de seus companheiros em relação a elas. Poucos gestos = pouco sentimento; muitos gestos = muito sentimento. Todo esse comportamento feminino, além de ser meio vazio (ao invés de verdadeiramente sensível), pode ser fatal. A personagem de Camila - ao entrar em um relacionamento inicialmente pelo físico e, mais tarde, ao atribuir à sensibilidade o caráter de controle (o que geralmente deriva da insegurança feminina) - minou o bem-estar do casal. Pode até ser que eu tenha falado um monte de besteiras, ou desfiado a mais autêntica psicologia de botequim, mas é assim que vejo. Grrr!
Um abraço nos rapazes!
E beijos nas meninas que ousaram ler essas palavras tão insensíveis rs.

10 comentários:

  1. Adorei a resenha!
    Já ouvi falar muito bem deste livro, deu vontade de ler!
    Adorei a parte do "Conversa só pra homens!" (tá, confesso: eu bisbilhotei! rsrss)
    Abração!
    Paty Algayer
    http://www.magicaliteraria.com

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  2. Oi, Paty! Obrigado pela mensagem. Você vai gostar do livro com certeza!

    Ah! Vou mandar a Luzia dar uma bisbilhotadinha também rsrs.

    Bjs!

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  3. Sergio, adorei a resenha!!! Sou suspeita para falar desse livro, pois é um dos meus favoritos...rs. Não tenho dúvida de que a Camila é uma revelação do gênero, e mais: acho que ela "aprimorou" o conceito do chick lit, pelas razões que vc expôs.
    Quanto à conversa só para homens, que obviamente bisbilhotei, não concordo com vc. Não acho que Bia viu em Dyllan apenas um homem maravilhoso fisicamente. Desde o início, ele se mostrou gentil e encantador. Com certeza, ela ficou balançada com essas características também. Que mulher não ficaria?
    E ele não é a mistura do Reynaldo Gianechini com o Paulo Zulu - de jeito nenhum! Ele está mais para Josh Holloway, na minha opinião.
    Um grande beijo!

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  4. Parabéns pela resenha Sergio! Estou ansiosa para ler Você Tem Meia Hora! Abraços!

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  5. Sergio, sua resenha está otima! Gostei mt da primeira parte, que ta basicamente o que eu achei - alias, aquele baque me deixou com os nervos a flor da pele!
    AGora a parte que me fez rir mesmo foi a 'conversa para homens' (sim, eu me meti, acha que eu ia perder essa chance) Acho que isso daria uma boa discussão entre os sexos, mas gostei de saber seu ponto de vista - que deve ter a ver com o de mts homens...

    bjs
    Evellyn!

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  6. Estou lendo esse livro, e logo, logo vou fazer a minha resenha.
    Quanto ao "Conversa só para homens" eu dei uma espiada, hahaha! E acredite, concordo com tudo.
    Sou mulher porque nasci com equipamento a menos. Mas meu jeito de ser é muito mais masculino. Acho que é por isso que me dou melhor com meus amigos (Homens).
    Melhor amiga, só tenho duas.

    Parábens pela resenha.

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  7. Oi, Sérgio,
    Com certeza, "Você tem meia hora", vai pra minha lista(interminável. Fiquei curiosa como título, quantas coisas boas, ou más pode-se fazem em 30 minutos.
    Quanto ao "papo de macho", sei não mas me parece que se as mulheres dessem mais importância ao conteúdos dos gestos, o que eles realmente significam e não ficassem atribuindo-lhes significados subjetivos, as coisas seriam mais claras num relacionamento.
    Abraços,
    Cármen (Ideias de canário).

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  8. oi Sergio adoro suas resenhas,fiquei curiosa em ler este livro,em viajar por este mundo tão fascinante,vou comprar o mais rapido possível.
    Quanto a conversa só pra homens,vc está certissímo.

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  9. Quando leio suas resenhas fico achando que as que faço são péssimas, rs.
    Adorei!
    Agora o livro vai para a minha lista.

    Eu adorei a conversa para homens(sim, eu fui dar uma conferida).

    Beijos!!

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    Respostas
    1. Oi, Carissinha.
      Não se subestime :( Seus textos são ótimos e muito inspirados.
      Bjs. e obrigado por aparecer :)

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abcs