29/09/2015

Uma Morte Muito Suave

Livro de Simone de Beauvoir



A autora narra a angústia que envolveu a internação de sua mãe para tratar de uma fratura do fêmur, decorrente de uma queda, e a morte dela por câncer, descrevendo os absurdos da existência e fazendo valer a tarefa por excelência da literatura: superar a solidão.

Reflexões não muito suaves

Não temo a morte. Ela pode vir hoje, amanhã ou daqui a anos. Tanto faz. O que assusta não é a morte, mas seus métodos, muitas vezes lentos e cruéis. Se o martírio físico e psicológico for grande, faz sentido a vítima desejar partir antes do suspiro final, sem apego a esta terra penosa.

Concordem ou não com o juízo acima, ele é lógico, ao contrário da forma de pensar cultuada pela maioria das pessoas, sempre desejosas por mais tempo no planeta, custe o que custar. Vejamos... 95% dos seres humanos acreditam em um deus; e a maior parte deles concebe um mundo extramaterial de maravilhas: após a morte do corpo, a alma seria levada a um lugar paradisíaco, reencontraria pessoas queridas e seria feliz para sempre. Mas se a vida celestial é infinitamente melhor que a mais dadivosa das vidas terrenas, por que o desejo de permanecer na Terra mesmo quando a existência tornou-se um fardo insuportável? Pois é... Se não faz sentido o apego à vida material quando tudo vai bem, muito menos sentido faz quando tudo vai mal. Como o apego existe, conclui-se: ou as pessoas não acreditam nas maravilhas do além-túmulo, ou elas são incoerentes.

O que falo é de desejo, de querer ficar aqui por puro apego à matéria. Isso exclui as pessoas que entendem sua permanência na Terra como uma missão a ser cumprida. Uma coisa é sentir urgência de continuar no planeta porque isso seria necessário ao aprendizado e ao desenvolvimento do espírito; outra coisa é desejar o adiamento da partida para o paraíso celeste apenas para curtir – mesmo cheio de dores e aflições – mais um pouco os prazeres menores daqui: viagens, festas... Se o “Céu” é tão melhor, qual a razão desse apego, ainda mais em uma situação de dor?

20/05/2015

O Sol Também se Levanta

Um livro para amar ou odiar



Uma sinopse razoável pode ser encontrada na contracapa do DVD de E Agora Brilha o Sol, filme inspirado em O Sol Também se Levanta.

Esse livro do Hemingway parece ser do tipo “ame-o ou odeie-o”. Enquanto uns bradam a suposta genialidade do texto, outros afirmam que ele não passa de um nada literário. Quem sabe o maior mérito da obra seja mesmo essa capacidade de gerar opiniões tão opostas nos leitores... Pode ser, não sei... Só sei que faço parte do segundo grupo, o dos que a acharam uma chatice sem fim. O livro começa sem rumo, segue sem rumo e, apenas no finalzinho, surge um rasgo de trama, quando a disputa pela moderninha Brett, que parece despertar a paixão de todos os personagens masculinos, deixa de ser velada. A narrativa das touradas também é interessante (a despeito do desprezo que tenho por eventos que maltratam animais); o autor mostra que sabe descrever cenas de ação com cores vivas. Mas nada disso fez valer a pena a leitura, que terminei por pura teimosia. Para aqueles que discordam e acharam o livro brilhante, deixo aqui alguns exemplos de livros que realmente achei geniais: Cem Anos de Solidão e O Amor nos Tempos do Cólera, de Gabriel García Márquez; A Peste e O Estrangeiro, de Albert Camus. Este último, a propósito, também gera muita controvérsia entre os leitores :)

16/05/2015

Fui uma Boa Menina?

Para leitores pouco exigentes



Através de seu diário, uma adolescente fora do comum escreve sobre seus dramas e conflitos familiares, corriqueiros e ao mesmo tempo excepcionais. A narrativa tenta envolver o leitor com suspense e um toque de fantasia.

Se eu fosse adjetivar o texto da Carolina em uma palavra, esta seria: infantil. Na verdade, muito infantil. Não sei se ando mais exigente por estar lendo um livro de contos excepcional – A Linha Tênue, de Rubem Cabral – mas fato é que achei o texto da Carolina extremamente imaturo, em todos os sentidos. Escrever contos é uma arte difícil, não é para qualquer um. Certa vez, escrevi em um prefácio:

"Entendi que o contista é um ser notável, pois, na ação de suas histórias, ele está adstrito a universos reduzidos – já que a narrativa nesse estilo literário costuma ater-se a um único fragmento existencial dos personagens, a um único drama em especial, a um único momento definido no tempo – limitação só vencida por uma pena criativa, capaz de conferir um lirismo (igualmente único) às palavras, de elevar a simplicidade a dimensões inimagináveis, de conceder auras oníricas a situações cotidianas e de fazer do clímax dramático um instante intenso e mágico, tudo com o objetivo de arrebatar o leitor de maneira singular, o que remete à célebre e arguta frase do contista argentino Julio Cortázar: 'No combate entre um texto e seu leitor, o romance sempre vence por pontos, enquanto o conto deve vencer por nocaute.' "

Pois é... No conto da Carolina, essas qualidades não existem. Tudo pareceu muito óbvio e bobinho. Além disso, talvez a autora tenha tentado escrever um conto como quem escreve um romance. Aí não dá certo mesmo... Não fui, enfim, nocauteado (pelo menos não no bom sentido).

Valorize o escritor brasileiro!
Um grande abraço!

12/05/2015

Resenha: O Estrangeiro

Livro de Albert Camus



Neste livro, o escritor e filósofo argelino Albert Camus, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 1957, narra a história de Mersault, homem aparentemente insensível levado a julgamento após matar um árabe.

A sociedade toma por base o sistema de crenças e as manifestações exteriores de um indivíduo para julgar seu caráter, intenções e sentimentos.

A despeito das inúmeras e profundas análises já feitas a respeito desse livro, eu diria que O Estrangeiro basicamente afirma a frase acima.

Alguns dizem que esse livro é superestimado; outros afirmam que é uma das melhores obras já escritas. Bem, eu gostei. Bastante até! Não porque a história é aclamada, mas porque ela, de forma interessante e inteligente, leva o leitor a fazer indagações relevantes. Eu me perguntei: é um homem como o protagonista Mersault que se faz estrangeiro ou é a terra que se faz estranha a ele? Quem precisa compreender quem? Seria Mersault um ser insensível ou simplesmente sereno frente à vida? Na verdade, insensíveis não seriam as sociedades, acostumadas a esmagar os indivíduos sob seus padrões e convenções?

O livro se divide em duas partes. A primeira é essencialmente uma narrativa factual; e o leitor pode até se sentir lendo um relatório. Mas, seja como for, nada ali é dito à toa. Cada mínimo movimento de Mersault e cada situação vivida por ele serão lembrados e analisados na segunda parte, trecho do livro onde o leitor encontrará a "ação" da história e o espírito filosófico de Camus.

08/02/2015

Entrevista de Sergio Carmach no Arca Literária

Um bate-papo rápido e direto


Olá, amigos!

O site Arca Literária abriu espaço para eu expor algumas ideias sobre literatura e falar um pouco de meu trabalho. Deixo aqui o convite para quem quiser aparecer por lá.


Trecho da entrevista:
Sergio, o que mais o inspira a escrever?
Não escrevo para encantar, mas para atiçar. O encantamento, quando acontece, é mero efeito colateral.

Valorizem o escritor brasileiro!
Um grande abraço!

23/01/2015

Momento poético #3

35 anos



35 anos...
Ah, sou o máximo
A juventude resplandece,
mas sem a touperice dos 20

O corpo é rijo
Tenho saúde pra dar e vender
Hospital e cemitério são pros outros
35, tudo de bom!

O casamento flui
Os filhos pequenos alegram a casa
A patroa tá com tudo em cima
(e as que traço por fora também)

Ah, 35...
No emprego chego ao auge
Sim, sou foda... Foda e imortal
Nada pode me atingir, otários de não-35!

Mocidade, saúde, família por perto,
dinheiro, a morte não existe...
35, que beleza!
Tenho o mundo a meus pés!

38 (não era 35?)
Tô de boa... Mas...
O que são esses reflexos no cabelo?
Ah, foda-se, tô no charme

41 (não era 35 ontem mesmo?)
Tô de boa, mas...
Cacete, por que a bula não foca?
Ah, pra que tomar essa merda...?!

47 (35, me sinto com 35!)
Tô muito bem, obrigado, mas...
Ei, mulher? Filhos? Pra onde vocês foram?
Ah, ferre-se, solidão é pra velhinho de asilo

56... (não pareço ter 35?)
Tô ótimo, saco! Mas...
Por que o cu dói se nunca dei?
Ha, ha, tenho pomadinha no armário, trouxas!

75...
Tô safenado e arrombado, e daí?
Tenho aposentadoria, netalhada, viagens
E hoje – cof, cof! – se vive até os 130 – cof!

80... (80? Quem disse? É 72, 72!)
Por que tô usando bengala?
Pra enfiar no teu rabo, safado!
Ontem mesmo eu tinha 35... – cof, cof, coooof!
Porra, nesse mercado só tem gente mole!

22/01/2015

Dica de leitura #1

O espremedor de colhões


O espremedor de colhões é um conto de Bukowski que todos deveriam ler. Nele, uma máquina (a sociedade) que esmaga os colhões (as convicções) transforma a pessoa em uma acéfala seguidora do senso comum. Trecho do conto, após o personagem Barney ter suas bolas esmagadas:

-Barney, quais são os teus ídolos?

- Bom, deixa eu ver... Cleaver, Dillinger, Che, Malcolm X, Gandhi, Jersey Joe Walcott, "Grandma" Barker, Fidel Castro, Van Gogh, François Villon, Hemingway.

- Viu, ele se identifica com todos os derrotados. Assim ele se sente bem. Tá se preparando pra perder a jogada. Pode contar com a nossa ajuda. Foi logrado com esse papo de alma e é desse modo que a gente prende o rabo deles. Alma não existe. É pura cascata. Não existem ídolos. É tudo onda. Não existe ninguém vitorioso na vida. É pura cascata, papo furado. Não há santos nem gênios. Tudo não passa de conversa mole pra boi dormir, conto da carochinha, só pro jogo continuar. Cada homem se esforça pra sobreviver e ter sorte – se puder. O resto não dá pra engolir.

- Tá bom, tá bom, já saquei o que você quer dizer! (...)

- Vão tomar no cu, vocês dois! Eu gosto de quem eu quiser! – protesta Barney Anderson.

- Barney, quando o cara não tem onde cair morto, e tá encurralado, faminto e cansado, ele é capaz de chupar pica, mamica, e até de comer bosta pra poder continuar vivo; ou se conforma ou se suicida. A raça humana não tá com nada, rapaz, não é flor que se cheire.

Genial, não?
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