23/01/2015

Momento poético #3

35 anos



35 anos...
Ah, sou o máximo
A juventude resplandece,
mas sem a touperice dos 20

O corpo é rijo
Tenho saúde pra dar e vender
Hospital e cemitério são pros outros
35, tudo de bom!

O casamento flui
Os filhos pequenos alegram a casa
A patroa tá com tudo em cima
(e as que traço por fora também)

Ah, 35...
No emprego chego ao auge
Sim, sou foda... Foda e imortal
Nada pode me atingir, otários de não-35!

Mocidade, saúde, família por perto,
dinheiro, a morte não existe...
35, que beleza!
Tenho o mundo a meus pés!

38 (não era 35?)
Tô de boa... Mas...
O que são esses reflexos no cabelo?
Ah, foda-se, tô no charme

41 (não era 35 ontem mesmo?)
Tô de boa, mas...
Cacete, por que a bula não foca?
Ah, pra que tomar essa merda...?!

47 (35, me sinto com 35!)
Tô muito bem, obrigado, mas...
Ei, mulher? Filhos? Pra onde vocês foram?
Ah, ferre-se, solidão é pra velhinho de asilo

56... (não pareço ter 35?)
Tô ótimo, saco! Mas...
Por que o cu dói se nunca dei?
Ha, ha, tenho pomadinha no armário, trouxas!

75...
Tô safenado e arrombado, e daí?
Tenho aposentadoria, netalhada, viagens
E hoje – cof, cof! – se vive até os 130 – cof!

80... (80? Quem disse? É 72, 72!)
Por que tô usando bengala?
Pra enfiar no teu rabo, safado!
Ontem mesmo eu tinha 35... – cof, cof, coooof!
Porra, nesse mercado só tem gente mole!

22/01/2015

Dica de leitura #1

O espremedor de colhões


O espremedor de colhões é um conto de Bukowski que todos deveriam ler. Nele, uma máquina (a sociedade) que esmaga os colhões (as convicções) transforma a pessoa em uma acéfala seguidora do senso comum. Trecho do conto, após o personagem Barney ter suas bolas esmagadas:

-Barney, quais são os teus ídolos?

- Bom, deixa eu ver... Cleaver, Dillinger, Che, Malcolm X, Gandhi, Jersey Joe Walcott, "Grandma" Barker, Fidel Castro, Van Gogh, François Villon, Hemingway.

- Viu, ele se identifica com todos os derrotados. Assim ele se sente bem. Tá se preparando pra perder a jogada. Pode contar com a nossa ajuda. Foi logrado com esse papo de alma e é desse modo que a gente prende o rabo deles. Alma não existe. É pura cascata. Não existem ídolos. É tudo onda. Não existe ninguém vitorioso na vida. É pura cascata, papo furado. Não há santos nem gênios. Tudo não passa de conversa mole pra boi dormir, conto da carochinha, só pro jogo continuar. Cada homem se esforça pra sobreviver e ter sorte – se puder. O resto não dá pra engolir.

- Tá bom, tá bom, já saquei o que você quer dizer! (...)

- Vão tomar no cu, vocês dois! Eu gosto de quem eu quiser! – protesta Barney Anderson.

- Barney, quando o cara não tem onde cair morto, e tá encurralado, faminto e cansado, ele é capaz de chupar pica, mamica, e até de comer bosta pra poder continuar vivo; ou se conforma ou se suicida. A raça humana não tá com nada, rapaz, não é flor que se cheire.

Genial, não?
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