01/05/2012

Resenha: A Insígnia de Claymor

Livro de Josiane Veiga


Borda Arredondada sem utilizar imagens
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Jehanie Claymor é uma jovem lady da Europa medieval que cresceu protegida pelo amor incestuoso do irmão Alexei. Sem conhecer os perigos e as maldades da época, ela foi mimada e amada ao extremo. Mas - ao abandonar o castelo de seu pai para viajar de encontro ao noivo, Garreth - vê todas as suas ilusões românticas chegarem ao fim.

De outro lado, temos sir Daniel Trent, um nobre religioso em busca de vingança. Sua irmã mais jovem, Rianna, foi seduzida por Alexei e abandonada grávida. Caída em desgraça, a moça terminou por se suicidar. No entanto, o destino de Trent muda completamente ao encontrar uma jovem que perdeu a memória. Sem saber, acaba se apaixonando pela irmã de seu maior inimigo...



Antes de mais nada, deve-se dizer que A Insígnia de Claymor é um livro diferente e corajoso, que reflete a personalidade dada a controvérsias de sua autora. Na história, Josiane não polemiza apenas ao narrar o clima incestuoso envolvendo a protagonista e seu irmão, mas também ao abordar questões que algumas pessoas ainda podem considerar incômodas (o machismo da sociedade, os absurdos cometidos, muitas vezes de forma hipócrita, em nome da religião...).

Mas nenhum leitor se sentirá atraído por um livro, mesmo que repleto de cutucadas interessantes no sistema e no senso comum, se ele não trouxer uma boa história. E é nesse ponto que eu queria chegar: a trama de A Insígnia de Claymor, além de instigante, é extremamente bem elaborada.

Após a leitura, percebi que o livro pode ser dividido em três partes:
(obs.: antes de iniciar A Insígnia de Claymor, zanzei pela blogosfera à cata de resenhas. E as que li me deixaram confuso quanto à história. Por isso, acho importante estender um pouco a sinopse antes de continuar. Não se trata de spoiler, mas de uma forma de situar melhor o leitor e deixá-lo mais interessado no livro, que oferece bem mais do que as resenhas me fizeram crer)

Uma instigante aventura medieval
A primeira parte tem como principal foco apresentar a família Claymor e seus agregados (o pai Albert e seu casal de filhos, o padre ateu Adam etc.), mostrando o surgimento do amor incestuoso de Alexei por Jehanie e o início do noivado desta com Garreth. Também conhecemos o clã dos Trent, o drama de Rianna e o surgimento do desejo de vingança no coração de Daniel, que planeja fazer mal à Jehanie para retribuir na mesma moeda o sofrimento que lhe foi causado por Alexei.

A viagem em comitiva da protagonista para encontrar o noivo na Inglaterra marca o início da segunda parte. Nesse trecho do livro, os Claymor são atacados e Jehanie, desmemoriada após ser raptada e abandonada, acaba sendo achada pelos Trent (Daniel e seu servo-irmão, Richard), que escoltavam a família da bela Claire Vardin até a Inglaterra para livrá-la do perigo de perseguição religiosa. Os Trent não reconhecem Jehanie, pois eles, em um momento anterior, haviam se convencido de que uma das amas da jovem era a própria. Nessa segunda parte, a narrativa se alterna entre a incursão de Alexei à procura do raptor da irmã e a viagem de Jehanie (que passa a ser chamada de Rousse por Daniel e Richard) com o grupo comandado pelos Trent.

A terceira parte é o defecho de toda essa “confusão”.

Josiane Veiga: polêmica e talentosa
A perfeita construção da história faz o enredo se desenrolar de forma bem coordenada, o que torna a leitura prazerosa e envolvente. Diversos acontecimentos essenciais para o bom funcionamento da trama são colocados e manipulados pela autora com um timing incrível. O erro dos Trent ao tentarem identificar Jehanie; a amnésia da protagonista; o interesse da família Vardin em casar Claire com Daniel, ao mesmo tempo em que Rousse e o jovem se envolvem: esses e muitos outros detalhes, inseridos com talento e sempre na hora certa por Josiane, tornam o livro emocionante como um todo. Não é qualquer escritor que possui a capacidade de imprimir essa dinâmica à sua obra. Isso envolve técnica narrativa e dom.

Os personagens são bem construídos e cada um tem razão para existir. Mas seus atos devem ser julgados com cuidado pelo leitor, pois a história, como dito, é passada na Idade Média. Assim, no livro, comportamentos aparentemente absurdos nada mais são que o retrato fiel de uma época, não podendo ser encarados como simples vilanias ou falta de caráter. Por outro lado, atitudes aparentemente normais acabaram soando deslocadas no contexto medieval (o temperamento arrojado de Jehanie, comum em mulheres de nossa época, seria encarado de forma tão complacente por homens de séculos atrás, ainda que nobres?).

Apesar de A Insígnia de Claymor ser uma série (tendência que detesto), a trama possui início, meio e fim. Aliás, se eu fosse a Josiane, não faria qualquer continuação, pois o final foi perfeito. Daniel teve a oportunidade de escolher entre o amor e a vingança; Alexei amargou uma (metafórica) justiça poética (cabe ao leitor julgar se o fim dado ao jovem Claymor trará ou não felicidade ao personagem); Jehanie viveu experiências fora de sua redoma que poderão fazê-la crescer... Enfim, não há mais o que dizer ou mudar, sob pena talvez de estragar o que está ótimo. Lembram do filme Highlander? Pois é! Ele é muito bom! Mas, então, o estúdio resolveu ganhar mais dinheiro e produziu continuações, transformando em lixo uma história originalmente excelente.

A Insígnia de Claymor é um dos melhores livros da nova literatura nacional que li até o momento. Recomendo inclusive aos que possam julgá-lo mal pela capa (veja abaixo). Garanto que terão uma excelente surpresa!

Momento ranzinza

Seria uma bela e eficiente inspiração...
Deixei para depois da conclusão as duas críticas que tenho a fazer (que não afetam em nada a qualidade da história em si). A primeira diz respeito à capa, ruim na minha opinião. Não ruim na arte – pois o desenho é muito bem-feito – mas no conceito. O que tem a ver aqueles bonecos olhudos e infantis, bem no estilo mangá, com o texto do livro?? Triste escolha, que certamente afastará um público que se interessaria pela (ótima) história (eu, por exemplo, nem tocaria em um exemplar eventualmente exposto em uma livraria). Uma capa a la Senhor dos Anéis seria muito mais atraente e adequada. A segunda crítica diz respeito ao erro crasso de Geografia contido na narrativa.

“Mas não quero agir tão egoisticamente como minha mãe e lhe impedir de cruzar logo a divisa da França com a Inglaterra.” (p.186)

Bem... Se o personagem não arranjar um navio, precisará cruzar a divisa a nado, pois ela fica no meio do canal da Mancha, não havendo “cidade de fronteira” (p.197) nessa área do planeta. Não tão absurdo, mas estranho, é o enorme tempo que a comitiva dos Trent levou para ir de Paris até a “fronteira” (onde seria o litoral norte francês), pois a distância entre esses locais é de aproximadamente 200km e o terreno não é muito acidentado. Para finalizar meu momento ranzinza, perceberam que destaquei o “lhe” na transcrição acima? Pois é! O trecho também contém um erro de Português, pois o correto seria “impedi-lo”, já que o pronome não está exercendo a função de objeto indireto (você impede “alguém” ou “a alguém”?). Aliás, preciso fazer um desabafo. Nos últimos meses, li maravilhosos livros da nova literatura nacional, mas quase todos estavam coalhados de erros assim. Pessoal, é preciso estudar regras gramaticais, inclusive a aplicação dos pronomes oblíquos átonos. Trocas eventuais acontecem nas melhores famílias, mas a constância é algo preocupante. Foi por essas e outras que lancei essa série (mas infelizmente a participação foi pequena).

Valorizem o escritor brasileiro!
Um grande abraço!

8 comentários:

  1. Oi Sergio! Parabéns pela resenha! Quero muito ler esse livro, aliás já está na minha estante virtual e, assim que puder, vou degustá-lo. Com relação ao desabafo, eu acrescentaria a péssima qualidade da revisão de textos realizada pelas editoras nacionais (é claro que há exceções). Isso certamente compromete o trabalho do autor, que, além de se preocupar com as questões que lhe competem, tem que cuidar de aspectos em que deveria receber suporte. É o meu desabafo!!
    Um grande abraço, Cynthia.

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    1. "Péssima qualidade", Cynthia? Eu diria que o problema é pior: o que temos, em geral, é uma total ausência de revisão! Mas, convenhamos, o autor tem que estar minimamente familiarizado com as regras gramaticais, já que o idioma é seu instrumento de trabalho.
      Bjs.

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  2. Cyntia... revisão? Nem isso Insignia teve. Uma amiga leu e corrigiu, porque não houve revisão paga. Mesmo assim, foram poucos erros mesmo, graças a Deus!
    Capa também foi presente de uma amiga...
    Mas, Sergio, uma coisa é verdade... não existe como continuar essa historia, mesmo que ainda eu tenha varios acontecimentos para narrar, porque o final ficou perfeito.
    Vou lançar em breve uma segunda edição, com capa nova e revisado por outra amiga, professora.
    e talves eu retire o "LIVRO 1", e deixe um livro unico, porque também acredito que, mesmo que IDC tenha sido escrito a tanto tempo, ja tenha sido um dos melhores livros que criei.
    Contudo, hj me voltei completamente para o publico GLBT

    ..
    Sergio, AMEIIII sua resenha. Obrigada de verdade.

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    1. Oi, Josy.
      Sou eu que agradeço a você por seu livro. Eu não esperava que fosse tão bom! Eu gostei tanto que já adianto uma coisa: se tiver um Livro 2, não vou ler, pois a história do 1 está perfeitamente acabada do jeito que está :)
      Bjs.

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  3. Ah, sobre a fronteira... na verdade eu citaria a viagem de barco, mas o texto acabou antes e essa cena seria narrada no livro 2, que devia estar pronto desde 2007 mas foi abandonado por pura falta de vontade da autora, rsrsrs

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  4. Agora é a vez do meu momento ranzinza.
    Não entendo o fascínio do povo pela capa.

    Já comprei livros que a capa era uma coisa de louco, mas o conteúdo deixava a desejar. Exemplo: Fallen e Strange Angels. Capas muito lindas, mas a história foi uma tortura, ao menos pra mim.

    "A Insígnia de Claymor", como disse uma outra leitora "É um tapa na cara!" No bom sentido, é claro. É um dos meus livros favoritos e não ligo para a capa. Pois o que vale foram as horas maravilhosas que passei lendo.

    Só fiquei triste em saber que não vai ter continuação, mas assim é melhor.

    Prefiro um único volume, do que uma continuação que estrague tudo.

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    1. Oi, Catalina.
      Julgar o livro pela capa realmente é um erro. Mas, apesar disso, a embalagem é importante. Além de sermos uma espécie programada para apreciar a estética, a capa é o primeiro elemento do livro que diz ao leitor o que ele pode esperar da leitura. Se uma pessoa, de cara, vê uns bonecos ao estilo mangá, vai imaginar, claro, que a história é parecida com aqueles jogos juvenis (que ela pode achar um porre). Assim, o livro, que não é nada disso que a capa faz parecer, acaba perdendo um fã em potencial.
      Bjs.

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    2. E para deixar bem clara a minha posição, vou transcrever a mensagem que deixei no blog da Cat:

      Oi, Cat e Josy.
      Eu valorizo a estética, mas o problema que eu levantei na minha resenha não foi esse. Olha a frase que eu escrevi no apêndice da resenha: "A primeira diz respeito à capa, ruim na minha opinião. Não ruim na arte – pois o desenho é muito bem-feito – mas no conceito." Ou seja, a minha questão não era a beleza (embora eu aprecie uma boa estética). A minha questão era o conceito. Apresentar um desenho no estilo mangá, na minha opinião, é um erro conceitual grave no livro da Josy, pois a história não remete a isso.

      E repetindo o que eu disse na resenha: "A Insígnia de Claymor é um dos melhores livros da nova literatura nacional que li até o momento."
      Bjs. nas duas.

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